Recentemente, recebi um convite (ok, ganhei uma promoção) para conferir a pré-estreia do filme "Solidões", de Oswaldo Montenegro e, como acho que as músicas do cantor são dotadas de uma sensibilidade incrível, achei que o filme também seria. De fato, é um filme bastante peculiar que causará algumas sensações até mesmo impactantes no telespectador, mas nem todas as impressões serão positivas.
"Solidões", como o título denuncia, trata dos diversos tipos de solidões que sentimos, por vezes retratando esse sentimento por metáforas óbvias como a comparação com a ilha, por vezes com passagens mais profundas e reflexivas e claro, através dos diversos personagens apresentados ao longo do filme. "Solidões", aliás, não tem história: é um filme fragmentado, sem continuidade, em que acompanhamos um personagem encontrando a si mesmo em uma realidade paralela, a moça que finge perder a memória para fugir da vida que não gostava, a mulher que espera o namorado no bar e o garçom que a anima e também, 'testes para entrar no elenco do filme' e um verdadeiro documentário sobre como o povo nordestino encara a solidão. Algumas histórias são interessantes e concretas, como a do mineiro que vai para o Rio de Janeiro ser músico, outras são desnecessárias, mas todas elas tem o intuito de provocar uma identificação, aliás, um efeito óbvio, pois todos nós em algum momento sentimos solidão.
O filme realmente foi pensado para ser fragmentado e essa descontinuidade é resultado da liberdade artística que Oswaldo Montenegro se permitiu, escrevendo quinze histórias e colocando todas elas no mesmo longa. No debate realizado com o diretor, muito se discutiu sobre o filme se qualificar ou não como "alternativo", agradar a poucos (aparentemente, todas as pessoas que estavam no debate) e toda a complexidade da forma com que o tema foi abordado. Sinceramente, apesar de concordar que filmes não precisam estar nos moldes tradicionais para serem bons, não acredito que só por ser diferente deve ser louvado. "Solidões" foi bastante louvado naquela sessão e muitas pessoas se sensibilizaram com o filme, mas não sei até que ponto cada passagem tem a capacidade de emocionar. Talvez uma história ou outra, mas a compilação de narrativas fez com que praticamente nenhuma fosse verdadeiramente bem explorada. Muito da recepção positiva vem do bom nome do Oswaldo Montenegro.
Como era de se esperar, um dos aspectos positivos é a ótima trilha sonora do músico, encaixando-se em diversas cenas e dando um ar de musical ainda que os personagens não cantassem suas falas. A religiosidade é tratada muito bem quando vemos a mãe do filho que foi para o Rio de Janeiro rezando, na música "Deus", plano de fundo quando o demônio faz sua caminhada até a igreja e não tão bem nos poucos minutos que apresentam a personagem Carol ou a prostituta Sabrina. O demônio é um personagem singular, e apesar de eu ter gostado da atuação dele, disseram no cinema que "como ator, Oswaldo Montenegro é um ótimo cantor". A fotografia também há de ser elogiada. Além da parte musical, Solidões tem bastante cenas dramáticas interrompidas por cenas cômicas, passagens realistas e surrealistas, algo de profundo e algo de enfadonho, o que não é surpresa diante a mistureba toda que foi criada.
De fato, Solidões é um filme capaz de agradar a poucos, mas não acredito que isso seja pela complexidade ou por ser incomum a ponto de só as pessoas intelectualmente maduras (sério?) compreenderem. O problema é que, dependendo do modo com que é conduzido, muitas vezes um filme com muitas histórias acaba ficando sem história nenhuma, sendo interessante para assistir uma vez, mas não para se perpetuar no tempo. O filme estreia dia 01 de novembro em oito capitais na rede Cine Itaú, e quem tiver a oportunidade de ver, rirá em algumas cenas e se questionará, mas ficará entediado e um tanto cético em outras. Gosto muito do Oswaldo Montenegro, mas já posso dizer que, como diretor, Oswaldo Montenegro é um ótimo cantor.
16 comentários
Cinema nacional querendo pagar de cinema europeu. Foda, né? Não vou ver esse lixo.
ResponderExcluirQue sortuda, ganhar ingressos para pré-estreias! Também tenho dúvidas quanto ao sucesso de filmes fragmentados, a história principal não fica definida, não dá para saber os personagens principais. A sua crítica foi a primeira que li sobre o filme e quero assistir por causa das músicas do Montenegro.
ResponderExcluirMeu Filme virou Livro
Oie, tudo bem?
ResponderExcluirVim te convidar para participar do "Follow Friday" lá no blog. Beijos *-*
Blog Fashion e Bella
www.fashionebella.com.br
esse homem é incrivel, tem uma voz doce que faz você refletir sabe ? Sortuda pelo convite rs
ResponderExcluirGrande beijo
umanoitemparis.blogspot.com
Eu não escuto taaanto Oswaldo, mais uma vez fizeste uma análise e comentário perfeito de filme! Eu já não sou muito fã de filmes com mais de duas histórias simultaneas, imagina 11 :O , mas quem sabe assista ^^ !
ResponderExcluirAh, te indiquei pra um selinho lá no blog: http://moniitorando.blogspot.com.br/2013/10/liebster-award.html
bjs
Não assisti ao filme, mas será que não foi proposital a diversidade de narrativas, numa alusão ao título do filme? Na verdade, estamos sozinhos, ou como diria García Marques, "condenados a viver cem anos de solidão", razão pela qual pouco importa como cada um se saiu em sua solitude no filme, assim como nós nos sairemos em nossos dias...
ResponderExcluirConcordo com Kátia, acho que as histórias são uma alusão ao títulos. Não sei se cada história são tão desnecessárias assim. Imagino que cada uma tem a sua importância. Fiquei curiosa para assistir e descobrir cada uma. Se tiver...
ResponderExcluirhttp://www.universodedali.blogspot.com.br
Oiii
ResponderExcluirAcho que eu não gostarei desse filme por ser tão fragmentado como você disse. Geralmente, não é o tipo de filme que eu curto, mas como é nacional, talvez eu dê uma chance :D
Beijão ;*
Gente, nem sabia que ele tinha dirigido um filme. Curioso, no mínimo, né? Mas tenho que assistir para dar uma opinião mais concreta...
ResponderExcluirVou dar uma chance porque você criticou, HAHAHHA adoro pagar pra ver (não literalmente é claro, alô torrent), além do mais é um filme diferente, já deve valer como experiência, hehe
ResponderExcluirStrawberry Fields
Oi, moça (desculpa, não sei o seu nome). Minha primeira vez no seu blog e precisei comentar. Estava adorando sua crítica ao filme. Assisti ao longa ontem e estava procurando críticas alternativas para ler. Acabei caindo aqui e achei bastante interessante até chegar na última frase: "Gosto muito do Oswaldo Montenegro, mas já posso dizer que, como diretor, Oswaldo Montenegro é um ótimo cantor."
ResponderExcluirCaramba, isso estragou tudo! Montenegro se mostrou um ÓTIMO diretor em seu primeiro longa (Léo e Bia) e, apesar de não ser tão bom quanto o primeiro, repetiu seu talento agora em Solidões.
O filme Solidões peca muito na parte técnica, mas poético, artístico, genial! Genial é a palavra! Pode não ter agradado o bastante, mas dizer que Montenegro não é um bom diretor é negar toda a sua genialidade apresentada em Léo e Bia e em musicais como "Oswaldo Montenegro e Cia. Molungo".
Oswaldo Montenegro é tão bom diretor de cinema quanto é como músico!
Olá, Vick! (Acho que agora sei como te chamar)
ResponderExcluirAcabei de ver seu comentário lá no Covil. Só pra deixar claro, eu também concordei com tudo. Só não concordei com a frase final. Te respondi lá e estou te respondendo aqui.
Daqui a pouco publico minha própria crítica sobre Solidões (o que será um milagre, porque faz muito tempo que não atualizo o Covil.
E voltarei mais vezes aqui também. Gosto de ler quem me lê! xD
Abraços!
Achei equivocado seu comentário no final. Oswaldo Montenegro teve um reconhecido trabalho como diretor de musicais; além disso, o longa Léo e Bia, anterior a Solidões, é um ótimo filme. Conheço atores e diretores de teatro em Brasília que começaram e aprenderam com ele.
ResponderExcluirE, Amanda, procure assistir ao filme antes de dizer que é um "lixo". Sugiro, também, que busque conhecer mais sobre a história e a importância do cinema nacional antes de compará-lo ao cinema europeu de forma tão negativa. Inclusive, não me recordo de ter visto algum filme europeu que se assemelhe a Solidões.
ResponderExcluirEsse filme não foi feito para agradar alguém, mas sim para mostrar uma realidade que poucos enxergam. O Oswaldo foi um pensador e passou o seu conhecimento através deste filme, o verdadeiro intuito era causar em casa um a indignação deste mundo perverso e das oportunidades limitadas ao ser humano. Este filme é magnifico! Quantas pessoas não fingem perder a memória? Só que de uma forma distinta e tudo isso só para tentar fugir dos seus problemas. Muitos pensam que por serem cercados de pessoas são "queridinhos", quando na verdades sempre estiveram sozinhos.
ResponderExcluirtalvez e só talvez quando se chega a uma certa idade conseguimos ver as coisas de outra forma flor....
ResponderExcluirSua critica é de uma menina de 22 anos que deve amar cinema, como eu amo cinema, aos 40...mas o que eu procuro nos filmes (eu percebi isso hoje por coincidência) é verdade, não veracidade ou fatos reais, mas a verdade com que o filme é feito...e isso solidões tem, ele foi feito com verdade e sem pretensão (também estive em uma sessão com o diretor aqui no interior de SP) e ele nem se diz diretor de cinema, e esta é a verdade dele e da equipe....no mais, 15 histórias...prá mim significa que nenhuma solidão é menos importante que as outras...só acho....tb é poesia.No fim de tudo Oswaldo é um grande poeta, apenas diversifica a maneira de expor sua poesia, músicas, poemas, contos, causos, peças de teatro, cinema - é um ser que espalha a poesia pelo mundo.