Crítica: Ponte de Espiões


quinta-feira, 19 de novembro de 2015



Ainda que seus últimos filmes não tenham sido tão significativos, não há como esperar pouco do diretor Steven Spielberg, responsável por filmes como Jurassic Park, A Lista de Schindler, E.T - O Extraterrestre e Império do Sol. Considerando que o último filme do diretor tem como protagonista o ator Tom Hanks, não há quem resista à Ponte de Espiões, um ótimo filme sobre espionagem durante a Guerra Fria.



Ambientado no meio da Guerra Fria, Ponte de Espiões é a história real de um advogado, James Donovan (Tom Hanks) que recebe a incumbência de defender um espião soviético (Mark Rylance) que foi descoberto nos Estados Unidos. Todos sabiam qual seria o resultado do julgamento e ele próprio seria realizado apenas para mostrar ao mundo que os EUA respeitam o devido processo legal, mas o pacato advogado de seguros se empenha tanto na defesa de seu cliente que posteriormente se envolve em algo muito maior: a negociação da troca de seu cliente Abel por um soldado norte-americano detido pela URSS e um estudante americano detido injustamente pela RDA, a ocorrer no momento histórico da construção do Muro de Berlim.



De forma bastante didática, a Guerra Fria é apresentada quase imparcialmente, afinal o soviético e o americano faziam a mesma coisa quando capturados: cumpriam o seu dever para com o país. Os países, no entanto, não estão interessados no que acontecerá com os prisioneiros, mas sim quais informações eles teriam revelado ou não. Nesse contexto, em que os EUA abdicavam seus valores constitucionais graças ao "terror comunista" e um estudante que nada tinha a ver com o conflito foi preso na Berlim Oriental, o único que realmente se preocupa com os três prisioneiros é Jim Donovan, que se empenha em salvar os americanos e também deportar o artista que conheceu por trás do espião soviético: independente das ideologias, todos são humanos e detentores dos mesmos direitos.



Enquanto a primeira parte se mostra um excelente filme de Tribunal, em que um advogado competente adota um discurso humanista contra a parcialidade e corrupção das cortes americanas, a segunda parte é um verdadeiro thriller de espionagem, e é aqui que o roteiro dos irmãos Coen se torna tenso e até mesmo a fotografia se torna mais sombria. A combinação dos roteiristas com Spielberg funciona muito bem, e se essa segunda parte deixa o sentimentalismo de lado, diante toda a frieza dos governos encontramos uma atuação comovente de Tom Hanks, personagem carismático que desempenha com maestria um homem comum, preocupado em fazer justiça.



Em diversos momentos da sua carreira, Spielberg mostrou-se aficionado por história e fez um ótimo trabalho em filmes sobre guerra. Mas seja em filmes de guerra, seja nos blockbusters familiares, uma característica intrínseca das obras do diretor é mostrar a humanidade dos personagens, é impregnar seus filmes com emoção. Esse é o grande trunfo de Ponte de Espiões, um excelente filme de espionagem retratando todos os temores da Guerra Fria junto da esperança e empatia que há no personagem de Tom Hanks.

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5 comentários

  1. Olá!
    Uma coisa que valorizo muito em tudo que consumo (seja filme, anime, livro) é personagem que desperte minha empatia (não que isso seja muito difícil, plmdds). Esse filme seria mais um que eu deixaria passar batido se não fosse por esta resenha, mas agora quero assistir. Como pretendo assistir mais filmes que abrangem o tema nas férias, conferirei tbm este *----*
    Abraços~

    Nankin Dust

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  2. Vicki, eu adorei sua resenha, me deu muita vontade de ver, já coloquei esse filme na minha lista!
    E sobre meu post, amo as monster highs, tenho varias mas amo as Ever after mais sombrias por assim dizer, como a Ravem, Cerise e as dos pais das maravilhas! E sim, eu lembto das Myscene! Minha sobrinha tem o dvd!
    Bjs

    http://achadosdamila.blogspot.com.br/

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  3. Caramba, adorei! Como eu nunca tinha escutado falar deste filme? :o
    Sério, muito legal!!! Tem no Netflix? Preciso ver! :p

    Beijo Vick!
    Andréia Campos
    http://petitandy.com

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  4. É interessante do começo ao fim. Ponte dos Espiões marca o retorno de Steven Spielberg à boa forma e ao modo mais gostoso de se fazer cinema: com criatividade e amor pela arte. Como sempre, Hanks traz sutilezas em sua atuação. O personagem nos cativa, provoca empatia imediata graças a naturalidade do talento do ator para trazer Donovan à vida. Mark Rylance (do óptimo Novo Filme Dunkirk ) faz um Rudolf Abel que não se permite em momento algum sair da personagem ambígua que lhe é proposta, ocasionando uma performance magistral, à prova de qualquer aforismo sentimental que pudesse atrapalhá- lo em seu trabalho, sem deixar de lado um comportamento espirituoso e muito carismático. O trabalho de cores, em que predominam o cinza e o grafite, salienta a dubiedade do caráter geral do mundo. Ponte dos Espiões levanta uma questão muito importante: a necessidade de se fazer a coisa certa, mesmo sabendo que isso vai contra interesses políticos ou de algum grupo dominante. A história aqui contada é baseada em fatos reais, mas remete também ao caso recente do ex-administrador de sistemas da CIA que denunciou o esquema de espionagem do governo americano em 2013 e foi tratado como um traidor, mesmo que tenha tido a atitude correta. É uma crítica clara à hipocrisia norte-americana, que trabalha sempre com dois pesos e duas medidas em se tratando de assuntos como esse.

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